Inauguração

maréeécrit

Camila Proto
05
Abril
2024
-
Sexta-feira
05
Abril
2024
às
18:30
Intermondes
Esta exposição é como um caderno de campo alargado, um registo em múltiplos suportes das minhas tentativas de refletir sobre a condição escritural da maré. Durante dois meses, fiz um estudo íntimo dos seus processos, das suas latências, dos seus sinais, para desaprender a escrever como me ensinaram na escola e para tentar escrever sobre e com a maré. E, ao fazê-lo, tentar conhecer o mundo de uma forma mais íntima. Para tornar o meu conhecimento e a minha escrita mais conscientes. Talvez um dia eu escreva como a maré escreve todos os dias.
É desta dupla afirmação que parto, como uma hipótese poética a investigar. Longe de mim tentar compreender o que a maré está a escrever. Este não é um projeto de interpretação. Mas gosto da forma como modifica a paisagem, criando sulcos profundos, inscrições e estilos. Gosto também da forma como desloca pesos pesados - pedras, ostras, ramos, plantas - e os reposiciona numa linha, criando uma espécie de bricolagem. Pergunto-me o que temos em comum, eu e a maré. Que movimentos subtis percebo na alteração do meu corpo? E no que venho a escrever? Adoro a forma como a respiração se assemelha a ela. Como a subida e a descida do diafragma, é um movimento que atrai o exterior e vice-versa. Adoro a forma como deixa marcas no musgo, na areia. Formas abstractas, impressionistas, que logo se desvanecem com o passar dos dias. Tudo começa de novo. E tudo é novo. A maré não tem medo de recomeçar.